Transformação Digital exige liderança jurídica ativa em grandes corporações
Mudanças tecnológicas aceleradas pedem atuação jurídica integrada desde o planejamento à execução de projetos.

Em um mundo empresarial cada vez mais orientado por dados, inteligência artificial e automação de processos, a liderança jurídica nas grandes corporações deixou de ser reativa e passou a ocupar posição estratégica central na transformação digital. Esse reposicionamento é evidenciado pelo relatório “2024 Legal Function Survey”, da Deloitte, que aponta que 78% dos executivos jurídicos globais já atuam diretamente na concepção de iniciativas digitais — número significativamente superior aos 47% registrados em 2020. No Brasil, esse avanço também vem ganhando tração, ainda que com desafios estruturais relacionados à maturidade regulatória e à integração interdepartamental.
Com o aumento da complexidade regulatória, da pressão por conformidade ética e da crescente exposição a riscos reputacionais e cibernéticos, o envolvimento do jurídico não pode mais se limitar às etapas posteriores de um projeto. A avaliação é da especialista em governança jurídica e inovação corporativa, Nurimar Elias Frigeri, que propõe uma nova mentalidade na articulação entre departamentos jurídicos, áreas de tecnologia e núcleos de estratégia empresarial. Segundo ela, a atuação preventiva e multidisciplinar é o caminho para a sustentabilidade organizacional em ambientes altamente regulados e digitalizados.
“As decisões de TI afetam contratos, LGPD, relações de consumo, propriedade intelectual e até ESG. Não é mais viável operar com o jurídico como uma área consultiva isolada. É preciso uma abordagem integrada e multidisciplinar desde o início dos projetos, com profissionais jurídicos preparados para lidar com ambientes ágeis, dados e inteligência artificial”, afirma Nurimar.
Com uma trajetória marcada pela atuação em jurídico corporativo, compliance, proteção de dados e governança estratégica, Nurimar acumulou experiência em operações de grandes escala, como Capgemini, Accenture e Telefônica. Nessas organizações, sua liderança se destacou por promover sinergias entre jurídico e tecnologia em projetos disruptivos, includindo transformações digitais em cadeias contratuais, arquitetura de soluções automatizadas e implementação de políticas de conformidade em ecossistemas digitais.
Dados da EY Law Survey 2024 revelam que 53% das áreas jurídicas ainda se consideram despreparadas para acompanhar a velocidade da digitalização, enquanto 65% das empresas enfrentam barreiras significativas para integrar compliance e tecnologia nos processos internos. Essas limitações evidenciam o abismo estrutural existente entre departamentos de inovação e áreas jurídicas tradicionais — muitas vezes pautadas por modelos operacionais inflexíveis ou desatualizados.
“Ainda estamos em transição. Há um abismo entre as áreas de inovação e os departamentos jurídicos tradicionais. A liderança jurídica do futuro será capaz de atuar de forma fluida entre contratos inteligentes, governança digital e proteção de dados transnacionais”, conclui Nurimar.
Em tempos de transformação acelerada, empresas que investem em liderança jurídica estratégica, multidisciplinar e tecnicamente atualizada estarão bem posicionadas para inovar com segurança, agilidade e responsabilidade. A atuação integrada entre direito, negócios e tecnologia não é mais uma vantagem competitiva ocasional — tornou-se um imperativo para garantir conformidade, sustentar a reputação corporativa e assegurar a longevidade no mercado global.
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